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“A Santa Sé sempre salientou que a qualidade da água acessível aos pobres é particularmente um problema grave”, segundo o Arcebispo Bernardito Auza, Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas. “Todos os dias, água contaminada provoca inúmeras mortes e a propagação de doenças derivadas da água, incluindo aquelas causadas por micro-organismos e substâncias químicas.”

O discurso do arcebispo decorreu em 23 de Março de 2018, durante o Evento de Alto-Nível de Lançamento da “Década Internacional para Acão: ‘Água para o Desenvolvimento Sustentável’”, nas Nações Unidas em Nova York.

Sr. Presidente,

A minha Delegação deseja agradecer-lhe a convocação deste evento de alto-nível e acolhe a oportunidade para partilhar a sua perspetiva nas questões relacionadas com a água em ordem à Década Internacional para Acão 2018-2028, denominada “Água para o Desenvolvimento Sustentável”, que é lançada hoje.

A Santa Sé sempre salientou que a qualidade da água acessível aos pobres é particularmente um problema grave. Todos os dias, a água contaminada provoca inúmeras mortes e a propagação de doenças derivadas da água, incluindo aquelas causadas por micro-organismos e substâncias químicas.

Nos últimos anos, as doenças hoje facilmente controladas da disenteria e cólera, associadas a uma inadequada higiene e ao abastecimento de água, causaram milhares de mortes e são uma causa significativa da mortalidade infantil.

Na sua Carta Encíclica Laudato Si’, Papa Francisco nota que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável.” [1]

A água é um escasso e indispensável recurso e um direito fundamental que condiciona o exercício de outros direitos humanos. Esta facto incontestável deve estar na vanguarda ao considerar prioridades na distribuição e uso da água. De igual modo reclama a redução de desperdício e do consumo inapropriado, o aumento de financiamento para assegurar o acesso universal à água e saneamento básicos, e a crescente preocupação e compreensão acerca da relação entre vida e água.

A Santa Sé ativamente promove projetos que fornecem água potável para os pobres. A Fundação João Paulo II para o Sahel, por exemplo, anualmente distribui significantes recursos para apoiar comunidades onde a água é escassa ou não existe. A Fundação realiza projetos voltados para a anti desertificação, o bombeamento de água, o desenvolvimento de unidades agrícolas e a formação de pessoal técnico para servir as suas comunidades. Também promove a coesão social e a harmonia religiosa entre as pessoas e comunidades que beneficiam dos projetos hídricos.

Os desafios com a escassez da água, a nível mundial, são técnicos, económicos, políticos e sociais, mas em última instância são também de teor ético e moral. Por isso, a crise hídrica é também um apelo a uma profunda “conversão ecológica” [2] manifestada numa cultura do cuidado e da solidariedade, tornando a nossa casa comum um lugar mais habitável e fraterno, onde ninguém é deixado para trás e todos podem viver de forma saudável e digna.

1. Papa Francisco, Carta Encíclica Laudato Si’, 30.
2. Idem 216.

Fonte: zenit.org